
Em sua edição de número 1.075, a Carta do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) trouxe reflexões sobre as oportunidades e os desafios da “transição verde” para o Brasil. Segundo o Iedi, “nossas florestas tropicais, por exemplo, têm influência planetária como reguladoras do clima e do regime de chuvas, o que nos impõe a responsabilidade e a oportunidade de liderar as diretrizes de mitigação do aquecimento global”. Há responsabilidades e oportunidades.
Uma grande discussão sobre sustentabilidade vem sendo feita inclusive no Fórum Econômico Mundial (WEF, em inglês), com as participações das elites econômicas do planeta. Em outros momentos históricos, sem que a questão da sustentabilidade fosse o foco de atuação conjunta, a cooperação entre os interesses públicos e privados se mostrou capaz de estruturar processos de desenvolvimento científico, tecnológico e econômico, quebrando as inércias dos sistemas produtivos.
A temática da sustentabilidade não é nova. Ela vem evoluindo desde a década de 1970 no mundo, influenciando diversos aspectos da produção de bens e serviços em muitos países. Em relação ao Brasil, há a urgente necessidade de se reavaliar e reconceituar o que seria um novo modelo de desenvolvimento, mais inclusivo do ponto de vista social e ambientalmente sustentável.
Muitos países já planejam as suas recuperações pós-pandêmicas a partir de novas bases, com investimentos em tecnologias relacionadas à transição energética. Investimentos em energia renovável e veículos elétricos, por exemplo, representam novas fronteiras de cooperação entre os interesses públicos e privados. Para construir essa transição energética, em 2020, foram realizados gastos planejados de US$ 501,3 bilhões em termos globais, uma alta de 9% em relação ao ano anterior.
De acordo com o Iedi, aproximadamente 75% dos projetos de geração de eletricidade no mundo concluídos em 2019 foram de tecnologias renováveis, como eólica e solar. Em síntese, “entre 2014 e 2019, o crescimento da capacidade instalada de energia eólica e solar no mundo foi equivalente a 70,5 vezes a capacidade instalada de geração da usina de Itaipu, a maior do Brasil”. A China entrou também pesado nesse jogo.
Para o pós-pandemia de Covid-19, os governos das grandes potências compreendem que as políticas de recuperação de suas economias estão relacionadas à sustentabilidade ambiental e à inclusão social, algo que reforça a tendência de apoio a novos mercados e tecnologias limpas. Tudo parece apontar para uma “retomada verde”, a ser realizada ao longo dos próximos tempos, pois as preocupações ambientais dominam a corrida tecnológica em vários setores.
Há exemplos de projetos em diversas partes do mundo, da Europa, passando pela Ásia e chegando aos EUA, sob nova administração. As cifras dos pacotes de estímulos são bilionárias porque há uma influência crescente das questões ambientais em acordos internacionais e tratados comerciais. Não convém olvidar o Acordo de Paris e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), da Organização das Nações Unidas (ONU), que estabelecem compromissos entre os países signatários para a redução das emissões de gases causadores do efeito estufa.
No caso brasileiro, a emissão de dióxido de carbono (CO2) por unidade de valor adicionado pela indústria subiu entre 2000 e 2017. Tendência contrária ocorreu na média dos países do G20. Portanto, modernizar a estrutura produtiva brasileira, a partir de bases tecnológicas mais limpas, se faz necessário para uma retomada após a pandemia. Os desafios são muitos para o Brasil. Não os enfrentar custará caro em termos de perda do dinamismo tecnológico e de prováveis sanções no comércio mundial.
Oportunidades existem para o Brasil, pois recebemos a maior taxa de insolação do mundo e temos um extraordinário potencial eólico, o nosso litoral é extenso e ele concentra a população e as atividades econômicas, facilitando a geração e a transmissão de energia solar ou eólica. Conforme as estimativas apresentadas, uma trajetória sustentável para a economia brasileira poderá resultar em ganhos de R$ 2,8 trilhões para o PIB e gerar 2 milhões de empregos novos até 2030. A transição verde deveria, portanto, se tornar um norte para uma nova estratégia produtiva nacional, com claras repercussões nos meios urbanos.
Como recomendação, o Iedi indicou a necessidade de fortalecimento das políticas ambiental e de ciência, tecnologia e inovação, sendo que devemos “tirar maior proveito do mercado de carbono e do emprego da nossa biodiversidade como fonte de conhecimento e de novos produtos”. O Iedi ponderou ainda que, “se bem coordenado, o processo de transição verde, através das suas diversas dimensões, pode auxiliar no combate ou mesmo reverter problemas de longa data do Brasil, relacionados à infraestrutura insuficiente e obsoleta, à perda de competências industriais, ao limitado desenvolvimento tecnológico, baixo dinamismo da produtividade, má distribuição de renda, entre outros”.
Atividade: leia o material do Iedi (clique aqui).
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